Negação lexicalA negação lexical faz-se em português através do "morfema de negação". Este se materializa na fala através dos alomorfes a-, des-, i-, in- e não-. |
a-
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De
origem grega, "a-" entra na composição de vocábulos como acrítico (a
+ crítico), atípico (a + típico), atóxico (a
+ tóxico). Por questão de eufonia,
diante de vogal, assume a forma "an-", como em anaeróbico (an
+ aeróbico) e anovulação (an + ovulação),
embora tenhamos aético (a + ético). O prefixo de
origem grega "a-" não deve ser confundido com outro, de origem
latina, com significado de afastamento, separação, como em apartar.
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des-
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Trata-se
de prefixo vernáculo,
que integra muitos vocábulos portugueses, tais como desacerto (des
+ acerto), desonesto (des + honesto), desaconselhável (des
+ aconselhável). O prefixo "des-" pode também significar "ação
contrária", como em desfazer e desconsiderar,
que não é o caso de que tratamos aqui.
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i-
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Prefixo
de origem latina, alguns gramáticos consideram-no variante do
"in-". Aparece em vocábulos como ilógico (i
+ lógico),iliquidez (i + liquidez), imerecido (i
+ merecido), imoral (i + moral). Diante de
palavras iniciadas com / /,
muda, na escrita, para "ir-" a fim de manter o caráter forte
daquele fonema: irreal (ir + real), irrecorrível (ir
+ recorrível), irreconhecível (ir +
reconhecível).
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in-
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Este
também é prefixo de origem latina, que entra na composição de muitas
palavras, como inapto (in + apto), inviável (in
+ viável), insatisfeito (in + satisfeito).
Diante de palavras iniciadas com /b/ e /p/,ocorre certa acomodação na
escrita: in-transforma-se em im-, já que
"b", "p" e "m" são letras que representam,
todas, fonemas bilabiais, isto é, emitidos mediante a junção dos lábios.
Assim, temos imbatível (im + batível), impatriótico (im
+ patriótico), improcedente (im + procedente).
É preciso não confundir este prefixo com outro "in-", que significa
"movimento para dentro", às vezes transformado em "em-" e
"en-", como em embarcar e enterrar.
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não-
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Embora
tenha caráter negativo, este prefixo não deve ser confundido com o advérbio
de negação "não". Aqui ele entra na composição de palavras como não-alinhado (não
+ alinhado), não-contradição (não +
contradição), não-intervenção (não +
intervenção).
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Grande número de exemplos que as gramáticas oferecem de prefixos é formado por palavras que vieram do latim ou do grego já com esses morfemas incorporados, o que não nos interessa em nosso estudo, o de composições ocorridas no português. Assim, átono e impróprio já chegaram ao português com os prefixos "a-" e "in-". A propósito, são oportunas estas palavras de Celso Luft: "Para que exista prefixo reconhecível, é preciso que o radical corresponda a um vocábulo autônomo ou forma livre:contradizer = contra + dizer; inverdade = in + verdade", o qual cita ainda mais dois outros requisitos. Continua ele: "Assim, não há prefixo, sob o ponto de vista descritivo, atual, em palavras como comer, esquecer, para as quais entretanto uma análise histórica depreende os prefixos com- (cum-) e es- (ex-)". Vamos mais além e entendemos que não há prefixos, pelo menos em português, nos citados exemplos átono e impróprio e em todos os que a prefixação não ocorreu em nosso idioma.
Por Hernandes, Paulo.
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