Entre mim e ele ou Entre eu e ele?
Frequentemente, pessoas têm dúvida com relação ao emprego dos pronomes pessoais em construções em que aparece a preposição entre.
É preciso, de início, lembrarmo-nos de que, em princípio, os pronomes pessoais retos só podem ser sujeitos de oração e não, complementos. Assim, em frases como “Isso fica entre mim e ele”, não caberia eu no lugar de “mim”, pois esse pronome figuraria no predicativo¹ “entre eu e ele”. Em outras palavras, um pronome reto (eu) estaria exercendo a função de complemento.
Nesta altura, você pode justamente questionar: “Ué, mas ele também não é pronome pessoal reto? Como pode figurar como complemento e eu não pode?”. É verdade, mas isso depende do uso que os falantes cultos fazem e eles querem assim.
Dessa forma, os pronomes pessoais eu e tu quando aparecem regidos pela preposição "entre" devem figurar na forma oblíqua – como em "Não há dificuldade entre mim e ti" – e não, na reta, como em "Não há dificuldade entre . Os demais pronomes são empregados na forma reta, apesar de figurarem como complementos: "Isto fica entre mim e ele" e "Está tudo bem entre nós e eles". Por questão de eufonia², é preferível o mim ser utilizado em primeiro lugar.
O mesmo vale quando temos pronomes de tratamento: "Esse assunto fica entre mim e o senhor", “Diga que aquilo se passou entre mim e você” e “Isso fica entre nós e Vossa Excelência”.
Por Hernandes, Paulo.
___________________________________ ¹Predicativo - Complemento que exprime algum estado ou qualidade atribuída ao sujeito ou ao objeto.
· Predicativo do sujeito - É o complemento de verbo de ligação. O predicativo do sujeito não expressa ação praticada por este, mas estado ou atributo a ele relativo: "Norma é habilidosa" e "Celso esteve desempregado". Esse complemento constitui o núcleo do predicado nominal = verbo de ligação + predicativo do sujeito.
· Predicativo do objeto - Aparece no predicado verbo-nominal (verbo transitivo + adjetivo ou substantivo) com verbo transitivo direto, isto é, com verbo cujo complemento é desacompanhado de preposição e confere algum atributo ao objeto: "Achei o terreno ¬suficiente" e "Os nobres elegeram Artur ¬ seu rei".
²Eufonia - Emissão verbal harmoniosa e agradável ao ouvido. Do grego eu, bem ou bom, e fonos, som, voz. À eufonia opõe-se a cacofonia* (do grego cacos, mau, feio, defeituoso, e fonos, som, voz), qualquer vício de linguagem** fonético.
*Cacofonia - Qualquer vício de linguagem fonético, geralmente resultado da proximidade não-intencional de palavras com sílabas ou fonemas idênticos ou parecidos (do grego cacos, mau, feio, defeituoso, e fonos, som, voz). As cacofonias compreendem:
· Assonância - Repetição de sílabas idênticas em vocábulos próximos: "um novo povo", "balão de São João", "Pude ver, nesta oportunidade, a realidade desta cidade".
· Cacófato - Encontro de sílabas que formam nova palavra de sentido ridículo ou obsceno: "É depôr com a mão", "Tirei da boca dela". Há casos de cacófatos internos ou intra-vocabulares, em que as sílabas da mesma palavra podem ser lidas de maneira separada de modo a produzir novas formas, inconvenientes: "É mulher que se disputa".
· Colisão - Repetição de consoantes que torna difícil ou incômoda a pronúncia: "O trem entrou nos trilhos através da tração das três locomotivas" e "O rato roeu a roupa de renda da rainha do rei da Rússia".
· Eco - Repetição de sílabas idênticas, com algum intervalo, de modo a se produzirem indesejáveis rima e ritmo na prosa: "Do fundo do meu coração, nasce esta expressão da minha gratidão" (LUFT, 1971) e "Vicente disse que sente, com freqüência, dor de dente".
· Hiato - Seqüência de vogais que dificulta a pronúncia: "Vá à aula" (ALMEIDA, 1999) e "A água refresca a areia à noite".
· Parequema - Encontro de sílabas iguais ou muito parecidas, que produz sonoridade desagradável: "Deixa a chave aí", "Essa é uma faca cara" e "Parece que vejo o teto torto".
Como se disse acima, essas ocorrências fonéticas - disciplina linguística que estuda os sons produzidos pelo ser humano com finalidade de comunicação, tanto do ponto de vista acústico como do articulatório, isto é, da maneira como eles são produzidos. A menor unidade estudada pela Fonética é o fone, realização concreta do fonema - são viciosas porque produzidas involuntariamente. Se o escritor produz esses efeitos sonoros de forma intencional, com objetivos estéticos, o resultado deixa de ser considerado vício. Assim, em "Zuniam as asas azuis", o mesmo efeito sonoro que poderia ser considerado vicioso (colisão), por ser provocado, denomina-se aliteração - repetição intencional de consoantes ou de grupos de consoantes para produção de efeito sonoro estético: "Rápido o raio rútilo retalha" (Raimundo Correia) e "Vozes veladas,veludosas vozes,/ Volúpia dos violões, vozes veladas,/ Vagam nos velhos vórtices velozes/ Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas" (Cruz e Sousa.) - recurso de estilo.
**Vício de linguagem - Qualquer desvio da norma culta da língua ou imperfeição na linguagem verbal. Os vícios de linguagem podem ser fonéticos, morfológicos, sintáticos e semânticos. |
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