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Texto com adaptações. Medeiros, Adelardo, A Língua Portuguesa. UFRN,
2001
Em razão das navegações portuguesas nos
séculos XV e XVI, a língua portuguesa, tornou-se um dos poucos idiomas
presentes na África, América, Ásia e Europa, sendo falado por mais de 200
milhões de pessoas.
O período pré-românico
Por volta do II milênio a.C., o grande
movimento migratório de leste para oeste dos povos que falavam línguas da
família indo-europeia terminou. Eles atingiram seu habitat quase
definitivo, passando a ter contato permanente com povos de origens diversas,
que falavam línguas não indo-europeias. Um grupo importante, os celtas,
instalou-se na Europa Central, na região correspondente às atuais: Boêmia
(República Tcheca) e Baviera (Alemanha).
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Algumas línguas da Europa no II milênio a.C.
Povos
de línguas indo-europeias: germanos,
eslavos, celtas, úmbrios, latinos, oscos, dórios.
Povos de origens diversas: íberos, aquitanos, lígures, etruscos, sículos. |
O período românico
A língua
portuguesa, que tem como origem a modalidade falada do latim, desenvolveu-se na
costa oeste da Península Ibérica (atuais Portugal e região da Galiza, ou
Galícia) incluída na província romana da Lusitânia. A partir de 218 a.C., com a
invasão romana da península, e até o século IX, a língua falada na região é o
romance, uma variante do latim que constitui um estágio intermediário entre o
latim vulgar e as línguas latinas modernas (português, castelhano, francês,
etc.).
Durante o período
de 409 d.C. a 711, povos de origem germânica instalam-se na Península Ibérica.
O efeito dessas migrações na língua falada pela população não é uniforme,
iniciando um processo de diferenciação regional. O rompimento definitivo da
uniformidade linguística da península irá ocorrer mais tarde, levando à
formação de línguas bem diferenciadas. Algumas influências dessa época
persistem no vocabulário do português moderno em termos como roubar, guerrear e branco.
A partir de 711,
com a invasão moura da Península Ibérica, o árabe é adotado como língua oficial
nas regiões conquistadas, mas a população continua a falar o romance. Algumas
contribuições dessa época ao vocabulário português atual são arroz, alface, alicate e refém.
No período que vai
do século IX (surgimento dos primeiros documentos latino-portugueses) ao XI,
considerado uma época de transição, alguns termos portugueses aparecem nos
textos em latim, mas o português (ou mais precisamente o seu antecessor, o
galego-português) é essencialmente apenas falado na Lusitânia.
O galego-português
No século XI, à
medida que os antigos domínios foram sendo recuperados pelos cristãos, os
árabes são expulsos para o sul da península, onde surgem os dialetos moçárabes,
a partir do contato do árabe com o latim.
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Mapa da reconquista cristã
do território de Portugal
Com a
Reconquista, os grupos populacionais do norte foram-se instalando mais a sul,
dando assim origem ao território português, da mesma forma que, mais a leste
na Península Ibérica, os leoneses e os castelhanos também foram progredindo
para o sul e ocupando as terras que, muito mais tarde, viriam a se tornar no
território do Estado espanhol.
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O português arcaico
À medida que os
cristãos avançam para o sul, os dialetos do norte interagem com os dialetos
moçárabes do sul, começando o processo de diferenciação do português em relação
ao galego-português. A separação entre o galego e o português se iniciará com a
independência de Portugal (1185) e se consolidará com a expulsão dos mouros em
1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o país. No
século XIV surge a prosa literária em português, com a Crónica Geral de Espanha (1344) e o Livro de Linhagens, de
dom Pedro, conde de Barcelos.
Entre os séculos
XIV e XVI, com a construção do império português de ultramar, a língua
portuguesa faz-se presente em várias regiões da Ásia, África e América,
sofrendo influências locais (presentes na língua atual em termos como jangada, de origem
malaia, e chá, de
origem chinesa). Com o Renascimento, aumenta o número de italianismos e
palavras eruditas de derivação grega, tornando o português mais complexo e
maleável. O fim desse período de consolidação da língua (ou de utilização do
português arcaico) é marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de
Resende, em 1516.
O português moderno
No século XVI, com
o aparecimento das primeiras gramáticas que definem a morfologia e a sintaxe, a
língua entra na sua fase moderna: em Os
Lusíadas, de Luís de Camões (1572), o português já é, tanto na estrutura
da frase quanto na morfologia, muito próximo do atual. A partir daí, a língua
terá mudanças menores: na fase em que Portugal foi governado pelo trono
espanhol (1580-1640), o português incorpora palavras castelhanas (como bobo e granizo);
e a influência francesa no século XVIII (sentida principalmente em Portugal)
faz o português de a metrópole afastar-se do falado nas colônias.
Nos séculos XIX e
XX o vocabulário português recebe novas contribuições: surgem termos de origem greco-latina
para designar os avanços tecnológicos da época (como automóvel e televisão) e termos
técnicos em inglês em ramos como as ciências médicas e a informática (por
exemplo, check-up e software).
O volume de novos termos estimula a criação de uma comissão composta por
representantes dos países de língua portuguesa, em 1990, para uniformizar o
vocabulário técnico e evitar o agravamento do fenômeno de introdução de termos
diferentes para os mesmos objetos.
O português no mundo
O mundo lusófono – que fala português –
é avaliado hoje entre 190 e 230 milhões de pessoas. O português é a oitava
língua mais falada do planeta, terceira entre as línguas ocidentais, após o
inglês e o castelhano.
O português é a língua oficial em oito países de quatro continentes:
- Angola
(10,9 milhões de habitantes)
- Brasil
(185 milhões)
- Cabo
Verde (415 mil)
- Guiné
Bissau (1,4 milhão)
- Moçambique
(18,8 milhões)
- Portugal
(10,5 milhões)
- São
Tomé e Príncipe (182 mil)
- Timor Leste (800 mil).
O português é uma das línguas oficiais
da União Europeia (ex-CEE) desde 1986, quando da admissão de Portugal na
instituição. Em razão dos acordos do MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), do qual o
Brasil faz parte, o português é ensinado como língua estrangeira nos demais
países que dele participam.
Em 1996, foi criada a Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),
que reúne os países de língua oficial portuguesa com o propósito de aumentar a
cooperação e o intercâmbio cultural entre os países membros e uniformizar e
difundir a língua portuguesa.
O mundo lusófono
Na área vasta e descontínua em que é
falado, o português apresenta-se, como qualquer língua viva, internamente
diferenciada em variedades que divergem de maneira mais ou menos acentuada
quanto à pronúncia, a gramática e ao vocabulário. Tal diferenciação,
entretanto, não compromete a unidade do idioma: apesar da acidentada história
da sua expansão na Europa e, principalmente, fora dela, a língua portuguesa
conseguiu manter até hoje apreciável coesão entre as suas variedades.
As formas características que uma língua assume
regionalmente denominam-se dialetos. Alguns linguistas,
porém, distinguem o falar do dialeto:
- Dialeto seria um sistema de sinais originado de
uma língua comum, viva ou desaparecida; normalmente, com uma concreta
delimitação geográfica, mas sem uma forte diferenciação diante dos outros
dialetos da mesma origem. De modo secundário, poder-se-iam também chamar
dialetos as estruturas linguísticas, simultâneas de outra, que não
alcançam a categoria de língua.
- Falar seria a peculiaridade expressiva própria
de uma região e que não apresenta o grau de coerência alcançado pelo
dialeto. Caracterizar-se-ia por ser um dialeto empobrecido, que, tendo
abandonado a língua escrita, convive apenas com manifestações orais.
No entanto, à vista da dificuldade de
caracterizar na prática as duas modalidades, empregou-se neste texto o termo dialeto no
sentido de variedade regional da língua, não importando o seu maior ou menor
distanciamento com referência à língua padrão.
No estudo das formas que veio a assumir
a língua portuguesa, especialmente na África, na Ásia e na Oceania, é
necessário fazer a distinção entre os dialetos e as línguas crioulas de origem
portuguesa. As variedades crioulas resultam do contato que o sistema
linguístico português estabeleceu, a partir do século XV, com sistemas
linguísticos indígenas. 0 grau de afastamento em relação à língua mãe é hoje de
tal ordem que, mais do que como dialetos, os crioulos devem ser considerados
como línguas derivadas do português.
O português na
Europa
Na faixa ocidental
da Península Ibérica, onde o galego-português era falado, atualmente utiliza-se
o galego e o português. Esta região apresenta um conjunto de falares que, de
acordo com certas características fonéticas (principalmente a pronúncia das
sibilantes: utilização ou não do mesmo fonema em roSa e em paSSo,
diferenciação fonética ou não entre Cinco e Seis,
etc.), podem ser classificados em três grandes grupos:
- Dialetos
galegos;
G - Galego ocidental
F - Galego oriental - Dialetos
portugueses setentrionais; e
E - Dialetos transmontanos e alto-minhotos
C - Dialetos baixo-minhotos, durienses e beirões - Dialetos
portugueses centro-meridionais.
D - Dialetos do centro-litoral
B - Dialetos do centro-interior e do sul - A - Limite de região
subdialectal com características peculiares bem diferenciadas
Portugal
A fronteira entre
os dialetos portugueses setentrionais e centro-meridionais atravessa Portugal
de noroeste a sudeste. Merecem atenção especial algumas regiões do país que
apresentam características fonéticas peculiares: a região setentrional que
abrange parte do Minho e do Douro Litoral, uma extensa área da Beira-Baixa e do
Alto-Alentejo, principalmente centro-meridional, e o ocidente do Algarve,
também centro-meridional.
Os dialetos
falados nos arquipélagos dos Açores e da Madeira representam um prolongamento
dos dialetos portugueses continentais, podendo ser incluídos no grupo
centro-meridional. Constituem casos excepcionais a ilha de São Miguel e da
Madeira: independentemente uma da outra, ambas se afastam do que se pode chamar
a norma centro-meridional por acrescentar-lhe certo número de traços muito
peculiares (alguns dos quais igualmente encontrados em dialetos continentais).
O
galego
A maioria dos
linguistas e intelectuais defende a unidade linguística do galego-português até
a atualidade. Segundo esse ponto de vista, o galego e o português moderno
seriam parte de um mesmo sistema linguístico, com diferentes normas escritas
(situação similar à existente entre o Brasil e Portugal, ou entre os Estados
Unidos e a Inglaterra, onde algumas palavras têm ortografias distintas). A
posição oficial na Galiza, entretanto, é considerar o português e o galego como
línguas autônomas, embora compartilhando algumas características.
História da língua
no Brasil
No início da
colonização portuguesa no Brasil (a partir da descoberta, em 1500), o tupi
(mais precisamente, o tupinambá, uma língua do litoral brasileiro da família
tupi-guarani) foi usado como língua geral na colônia, ao lado do português,
principalmente graças aos padres jesuítas – que haviam estudado e difundido a
língua. Em 1757, a utilização do tupi foi proibida por uma Provisão Real. Tal
medida foi possível porque, a essa altura, o tupi já estava sendo suplantado
pelo português, em virtude da chegada de muitos imigrantes da metrópole. Com a
expulsão dos jesuítas em 1759, o português fixou-se definitivamente como o
idioma do Brasil. Das línguas indígenas, o português herdou palavras ligadas à
flora e à fauna (abacaxi, mandioca, caju, tatu, piranha), bem como
nomes próprios e geográficos.
Com o fluxo de
escravos trazidos da África, a língua falada na colônia recebeu novas
contribuições. A influência africana no português do Brasil, que em alguns
casos chegou também à Europa, veio principalmente do ioruba, falado pelos
negros vindos da Nigéria (vocabulário ligado à religião e à cozinha afro-brasileiras),
e do quimbundo angolano (palavras como: caçula; moleque e samba).
Um novo
afastamento entre o português brasileiro e o europeu aconteceu quando a língua
falada no Brasil colonial não acompanhou as mudanças ocorridas no falar
português (principalmente por influência francesa) durante o século XVIII,
mantendo-se fiel, basicamente, à maneira de pronunciar da época da descoberta.
Uma reaproximação ocorreu entre 1808 e 1821, quando a família real portuguesa,
em razão da invasão do país pelas tropas de Napoleão Bonaparte, transferiu-se
para o Brasil com toda sua corte, ocasionando um (re)aportuguesamento intenso
da língua falada nas grandes cidades.
Após a
independência (1822), o português falado no Brasil sofreu influências de
imigrantes europeus que se instalaram no centro e sul do país. Isso explica
certas modalidades de pronúncia e algumas mudanças superficiais de léxico que
existem entre as regiões do Brasil, que variam de acordo com o fluxo migratório
que cada uma recebeu.
No século XX, a
distância entre as variantes portuguesa e brasileira do português aumentou em
razão dos avanços tecnológicos do período: não existindo um procedimento
unificado para a incorporação de novos termos à língua, certas palavras
passaram a ter formas diferentes nos dois países (comboio e trem, autocarro e ônibus, pedágio e portagem). Além
disso, o individualismo e nacionalismo que caracterizam o movimento romântico
do início do século intensificaram o projeto de criação de uma literatura
nacional expressa na variedade brasileira da língua portuguesa, argumento
retomado pelos modernistas que defendiam, em 1922, a necessidade de romper com
os modelos tradicionais portugueses e privilegiar as peculiaridades do falar
brasileiro. A abertura conquistada pelos modernistas consagrou literariamente a
norma brasileira.
Zonas dialectais brasileiras
A fala popular
brasileira apresenta uma relativa unidade, maior ainda do que a da portuguesa,
o que surpreende em se tratando de um país tão vasto. A comparação das
variedades dialetais brasileiras com as portuguesas leva à conclusão de que aquelas
representam em conjunto um sincretismo destas, já que quase todos os traços
regionais ou do português padrão europeu que não aparecem na língua culta
brasileira são encontrados em algum dialeto do Brasil.
A insuficiência de
informações rigorosamente científicas e completas sobre as diferenças que
separam as variedades regionais existentes no Brasil não permite classificá-las
em bases semelhantes às que foram adotadas na classificação dos dialetos do
português europeu. Existe, em caráter provisório, uma proposta de classificação
de conjunto que se baseia - como no caso do português europeu - em diferenças
de pronúncia (basicamente no grau de abertura na pronúncia das vogais, como em pEgar, onde o
"e" pode ser aberto ou fechado, e na cadência da fala). Segundo essa
proposta, é possível distinguir dois grupos de dialetos brasileiros: o do Norte
e o do Sul. Podem-se distinguir no Norte duas variedades: amazônica e
nordestina. E, no Sul, quatro: baiana, fluminense, mineira e sulina.
Essa proposta, embora tenha o mérito de ser a
primeira tentativa de classificação global dos dialetos portugueses no Brasil,
é claramente simplificadora. Alguns dos casos mais evidentes de variações
dialectais não representadas nessa classificação seriam:
- a
diferença de pronúncia entre o litoral e o interior do Nordeste; o dialeto
da região de Recife, em Pernambuco (PE) é particularmente distinto;
- a
forma de falar da cidade do Rio de Janeiro (RJ);
- o
dialeto do interior do estado de São Paulo (SP); e
- as
características próprias aos três estados da região sul (PR, SC e RS), em
particular o(s) dialeto(s) utilizado(s) no estado do Rio Grande do Sul
(RS)
O português na
África
Em Angola e
Moçambique, onde o português se implantou mais fortemente como língua falada,
ao lado de numerosas línguas indígenas, fala-se um português bastante puro,
embora com alguns traços próprios, em geral arcaísmos ou dialetalismos lusitanos semelhantes aos encontrados no Brasil. A
influência das línguas negras sobre o português de Angola e Moçambique foi
muito leve, podendo dizer-se que abrange somente o léxico local.
Nos demais países
africanos de língua oficial portuguesa, o português é utilizado na
administração, no ensino, na imprensa e nas relações internacionais. Nas
situações da vida cotidiana são utilizadas também línguas nacionais ou crioulas
de origem portuguesa. Em alguns países verificou-se o surgimento de mais de um
crioulo, sendo eles, entretanto compreensíveis entre si.
Essa convivência
com línguas locais vem causando um distanciamento entre o português regional
desses países e a língua portuguesa falada na Europa, aproximando-se em muitos
casos do português falado no Brasil.
Angola
O português é a
língua oficial de Angola. Em 1983, 60% dos moradores declararam que o português
é sua língua materna, embora estimativas indiquem que 70% da população falem
uma das línguas nativas como primeira ou segunda língua.
Além do português,
Angola abriga cerca de onze grupos linguísticos principais, que podem ser
subdivididos em diversos dialetos (cerca de noventa). As línguas principais
são: o umbundu, falado pelo grupo ovimbundu (parte central do país); o kikongo,
falado pelos bakongo, ao norte, e o chokwe-lunda e o kioko-lunda, ambos ao
nordeste. Há ainda o kimbundu, falado pelos mbundos, mbakas, ndongos e mbondos,
grupos aparentados que ocupam parte do litoral, incluindo a capital Luanda.
Talvez em razão
dessa variedade linguística original, o português acabou por se tornar uma
espécie de língua franca, que facilitava a comunicação entre os diversos
grupos. Em contato com as línguas nativas, o português também sofreu
modificações, dando origem a falares crioulos, conhecidos como pequeno português,
ou popularmente, como pretoguês.
Cabo Verde
O português é a
língua oficial de Cabo Verde, utilizada em toda a documentação oficial e
administrativa. É também a língua das rádios e televisões e, principalmente, a
língua de escolarização.
Paralelamente, nas
restantes situações de comunicação (incluindo a fala quotidiana), utiliza-se o
cabo-verdiano, um crioulo que mescla o português arcaico a línguas africanas. O
crioulo divide-se em dois dialetos com algumas variantes em pronúncias e
vocabulários: os das ilhas de Barlavento, ao norte, e os das ilhas de
Sotavento, ao sul.
Guiné-Bissau
Em 1983, 44% da
população falava crioulos de base portuguesa, 11% falava o português e o
restante, inúmeras línguas africanas. O crioulo da Guiné-Bissau possui dois
dialetos, o de Bissau e o de Cacheu, no norte do país.
A presença do
português em Guiné-Bissau não está consolidada, pois apenas uma pequena
percentagem da população guineense tem o português como a língua materna e
menos de 15% tem um domínio aceitável da Língua Portuguesa. A zona lusófona
corresponde ao espaço geográfico conhecido como "a praça", que
corresponde à zona central e comercial da capital (Bissau).
A situação se
agrava devido ao fato da Guiné-Bissau ser um país encravado entre países francófonos
e com uma comunidade imigrante expressiva vinda do Senegal e da Guiné (também
conhecida como Guiné-Conakri). Por causa da abertura à integração sub-regional
e da grande participação dos imigrantes francófonos no comércio, existe
presentemente uma grande tendência de as pessoas utilizarem e aprenderem mais o
francês do que o português. Há aqueles que defendem que, atualmente, o francês
já é a segunda língua mais falada na Guiné, depois do crioulo.
Moçambique
Moçambique está
entre os países onde o português tem o estatuto de língua oficial, sendo
falada, essencialmente como segunda língua, por uma parte da sua população.
De acordo com
dados do Censo de 1980, o português era falado por aproximadamente 25% da
população e constituía a língua materna de pouco mais de 1% dos moçambicanos.
Os dados do Censo de 1997 indicam que a percentagem atual de falantes de
Português já é de 39,6%, que 8,8% usam o português para falar em casa e que
6,5% consideram o português como sua língua materna. A vasta maioria das pessoas
que têm a língua portuguesa como materna reside nas áreas urbanas do país, e
são os cidadãos urbanos, principalmente, que adotam o português como língua de
uso em casa. No país como um todo, a maioria da população fala línguas do grupo
bantu. A língua materna mais frequente é o emakhuwa (26.3%); em segundo lugar
está o xichangana (11.4%) e em terceiro, o elomwe (7.9%).
São Tomé e Príncipe
Em São Tomé
fala-se o forro, o angolar, o tonga e o monco (línguas locais), além do
português. O forro (ou são-tomense) é um crioulo de origem portuguesa, que se
originou da antiga língua falada pela população mestiça e livre das cidades. No
século XVI, naufragou perto da ilha um barco de escravos angolanos, muitos dos
quais conseguiram nadar até a ilha e formar um grupo étnico a parte. Este grupo
fala o angolar, outro crioulo de base portuguesa, mas com mais termos de origem
bantu. Há aproximadamente 78% de semelhanças entre o forro e o angolar. O tonga
é um crioulo com base no português e em outras línguas africanas. É falado pela
comunidade descendente dos "serviçais", trabalhadores trazidos por
meio de contrato de outros países africanos, principalmente Angola, Moçambique
e Cabo-Verde.
A ilha do Príncipe
fala principalmente o monco (ou principense), outro crioulo de base portuguesa
e com possíveis acréscimos de outras línguas indo-europeias. Outra língua muito
falada em Príncipe (e também em São Tomé) é o crioulo cabo-verdiano, trazido
pelos milhares de cabo-verdianos que emigraram para o país no século XX para
trabalharem na agricultura.
O português
corrente de São Tomé e Príncipe guarda muitos traços do português arcaico na
pronúncia, no léxico e até na construção sintática. Era a língua falada pela
população culta, pela classe média e pelos donos de propriedades. Atualmente, é
o português falado pela população em geral, enquanto que a classe política e a
alta sociedade utilizam o português europeu padrão, muitas vezes aprendido
durante os estudos feitos em Portugal.
Outras regiões da África
A influência portuguesa na África
deu-se também em algumas outras regiões isoladas, muitas vezes levando à
aparição de crioulos de base portuguesa:
- Ano Bom, na Guiné Equatorial.
Em Ano Bom, uma ilha a 400 km ao sul de São Tomé, fala-se o ano-bonense,
bastante similar ao são-tomense. Tal fato explica-se por haver sido a ilha
povoada por escravos vindos de São Tomé.
- Casamança, no Senegal.
O crioulo de Casamança só se fala na capital, Ziguinchor, uma cidade
fundada por portugueses (seu nome deriva da expressão portuguesa cheguei
e chorei). Está na órbita lexical do crioulo de Cacheu, na
Guiné-Bissau.
O português na Ásia
Embora nos séculos
XVI e XVII o português tenha sido largamente utilizado nos portos da Índia e
sudeste da Ásia, atualmente ele só sobrevive na sua forma padrão em alguns
pontos isolados:
- no Timor
leste, território sob administração portuguesa até 1975, quando
foi invadido e anexado ilegalmente pela Indonésia. A língua local é o
tetum, mas uma parcela da população domina o português.
- em Macau, território chinês que esteve
sob administração portuguesa até 1999. O português é uma das línguas
oficiais, ao lado do chinês, mas só é utilizado pela administração e
falado por uma parte minoritária da população;
- no
estado indiano de Goa,
possessão portuguesa até 1961, onde vem sendo substituído pelo konkani
(língua oficial) e pelo inglês.
Dos crioulos da
Ásia e Oceania, outrora bastante numerosos, subsistem apenas os de Damão,
Jaipur e Diu, na Índia; de Málaca, na Malásia; do Timor; de Macau; do
Sri-Lanka; e de Java, na Indonésia (em algumas dessas cidades ou regiões há
também grupos que utilizam o português).
Fontes
- Almanaque Abril, 20a (1994) e 21a (1995) edições. Editora Abril, São Paulo, Brasil.
- Azevedo Filho, Leodegário A. (1983), História da Literatura Portuguesa - Volume I: A Poesia dos Trovadores Galego-Portugueses. Edições Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, Brasil.
- Cuesta, Pilar V. e Mendes da Luz, Maria A. (1971), Gramática da Língua Portuguesa, pp. 119-154. Coleção Lexis, Edições 70, Lisboa, Portugal.
- Culbert, Sidney S. (1987), The principal languages of the World, em The World Almanac and Book of Facts - 1987, p. 216. Pharos Books, New York, EUA.
- Cunha, Celso e Cintra, Luis F. Lindley (1985), Nova Gramática do Português Contemporâneo, cap. 2, pp. 9-14. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, Brasil.
- Ferreira, Carlota e outros (1994), Diversidade do Português do Brasil: Estudos de Dialectologia Rural e Outros, 2a edição (revista). Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil.
- Mattos e Silva, Rosa V. (1994), O Português Arcaico - Morfologia e Sintaxe. Editora Contexto, São Paulo, Brasil.
- Medeiros, Adelardo, A Língua Portuguesa. UFRN, 2001.
- Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2a edição (revista e ampliada, 1986). Editora Nova Fronteira, São Paulo, Brasil.
- Walter, Henriette (1994), A Aventura das Línguas do Ocidente - A sua Origem, a sua História, a sua Geografia (tradução de Manuel Ramos). Terramar, Lisboa, Portugal.
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